Transparência na moda deixa a desejar

No Índice de Transparência da Moda de 2024, compilado pela Fashion Revolution, 32 marcas receberam uma pontuação de 0% e a mais bem posicionada 75%. A média das 250 maiores marcas de moda fica-se pelos 18%.
De acordo com o estudo What Fuels Fashion?, uma edição especial do Índice de Transparência da Moda, compilado anualmente pela organização, as grandes marcas de moda têm de investir pelo menos 2% das suas receitas anuais na transição para deixarem de usar combustíveis fósseis.

O estudo, que analisa e classifica 250 das maiores marcas e retalhistas de moda do mundo com um volume de negócios igual ou superior a 400 milhões de dólares com base em sua divulgação pública de ações relacionadas ao clima e à energia, abrande 70 indicadores, incluindo responsabilização, descarbonização, aquisição de energia e financiamento da descarbonização.

A principal conclusão é que apesar do aumento da crise climática, os objetivos de redução das grandes marcas não são «suficientemente ambiciosos» para responder ao objetivo de limitar o aumento da temperatura mundial a 1,5ºC face aos níveis pré-industriais. «Em vez de investirem numa transição justa de combustíveis fósseis, como o carvão, para energias renováveis, como a eólica e solar, para alimentar a cadeia produtiva da moda de forma limpa, as marcas de moda estão a transferir os custos para as empresas com quem trabalham, colocando o peso sobre os trabalhadores e comunidades de resolver um problema que não criaram», descreve a Fashion Revolution.
A organização refere que apenas 3%, ou seja, sete marcas, das 250 analisadas revelam esforços para apoiar financeiramente os trabalhadores afetados pela crise climática.

«Ao investirem pelo menos 2% do seu volume de negócios em energia limpa renovável e qualificar e apoiar os trabalhadores, a moda pode, simultaneamente, baixar os impactos da crise climática e reduzir a pobreza e desigualdade nas suas cadeias de aprovisionamento», sublinha Maeve Galvin, diretora de política e campanhas na Fashion Revolution.

Na classificação das empresas, a média foi de 18%, sendo que 32 receberam 0% de pontuação, incluindo BCBG Max Azria, DKNY, Fabletics, Forever 21, Longchamp, Max Mara, New Yorker, Quicksilver, Reebok, Revolve, Tom Ford e Tory Burch.

Já entre as mais bem classificadas estão a Puma (75%), Gucci (74%), H&M (61%), Calzedonia (52%), Decathlon (51%), Hermès (49%) e Adidas (49%).

No estudo, a Fashion Revolution aponta ainda que as marcas de moda, além de estarem atrasadas a atingirem os objetivos delineados para a redução das emissões, não se estão a responsabilizar pelo excesso de produção (quase metade – 45% – não revela quantos itens produz anualmente) e que o chamado vestuário “sustentável” pode estar a ser produzido com recurso a combustíveis fósseis, uma vez que apenas 11% das marcas e retalhistas revelam as fontes de energia da sua cadeia de aprovisionamento.

A organização sublinha que é preciso financiar os produtores. «Apesar de serem os maiores emissores com a maior responsabilidade financeira para descarbonizarem, quase todas (94%) das marcas de moda não revelam quanto estão a investir na descarbonização da cadeia de aprovisionamento. Apenas 6% revelam essas contribuições, muitas vezes ao juntarem-se a fundos como o Fashion Climate Fund e a Future Supplier Initiative.

Estes fundos oferecem aos fornecedores empréstimos para infraestruturas como painéis solares. Contudo, carregar os fornecedores com empréstimos para responder aos objetivos climáticas das marcas é injusto e perpetua os atuais desequilíbrios de poder entre as marcas de moda, os seus fornecedores e as pessoas que fazem as roupas», conclui.

Fonte
Portugal Textil
Fotografia
PxHere